sexta-feira, julho 14

Vai e vem, se

O farol fusco vive o entardecer. Enquanto que a luz que veio, vai-se. Perco-me entre a beleza de perdição do horizonte e os teus olhos. Escolher entre o paraíso que transmite um laranja torrado enternecedor e o azul ofuscante (dos teus olhos) que se funde com o mar é das equações matemáticas mais complexas que já tive.

Perco-me a fazer contas com o teu cabelo, por isso te pedi que não o cortasses, lembraste? Toco-te ao ritmo da ondulação leve que vai e vem. Solto uma pedra e abraçados contamos os círculos infinitos que se formam. A forma como viajam - sem medo- e param apenas quando chocam com a pedra fria que tresanda a lodo. Quero que o nosso sentimento seja ainda mais forte - resista; que ganhe raízes e reúna mil forças do Universo para despedaçar em milhentos bocados qualquer calhau intrometido na nossa caminhada. E que gere fragmentos que sejam tão pequenos que o microscópio mais poderoso do mundo desista: nunca os consiga vislumbrar.

Entretanto, a maresia embala o nosso abraço. Um reflexo frágil do farol usa como espelho a água calma e terna que mal se move. Agora, a lua que se foi, volta; o vento que fugiu, regressa em força – tal como sentimento que perdi e encontrei ao teu lado. Dá-me a mão e peço-te: ajuda-me a parar este ciclo perpetuo de dor - do ir e ficar no escuro à espera, enquanto o coração chora, enquanto esperámos pelo voltar. Sozinho não conseguirei.

segunda-feira, julho 10

Embalado ao vento

Não sei se o vento tem força suficiente para transportar a minha voz ou arrastar a minha alma para perto de ti. Mas sei que gosto muito dele, sempre gostei. Vejo-o como quem consegue amar um incompreendido: que fala e sente, mas que ninguém quer acariciar; que mexe em tudo o que quer sem se fazer notar (com a caricia de um mimo); que sozinho corre e varre os campos verdes que com ele cruzam, que com ele coabitam.

Esquecem-se que é ele que abana gentilmente as folhas das árvores na Primavera. Fazem de conta que não existe e retiram-lhe mérito de empurrar as nuvens cinzas que afloram no Outono. Não agradecem as ondas de calor que acariciam numa noite de Verão. E nunca entendem que é graças a ele que a chuva se inclina molhando o teu vestido branco e permitindo, assim, apreciar cada centímetro do teu corpo - como se de um nu artístico se tratasse.

É esse o problema da humanidade: esquecimento, o faz de conta, falta de um obrigado, o não entender.

Não saber amar o simples, ter medo de abraçar quem passa – só porque verteu um sorriso. Não acreditar que os pensamentos de amor viajam empurrados pela brisa meiga e chegam até ti, até quem se ama – sempre.

Não chorar no escuro do cinema, ter medo de perder os pensamentos num qualquer nascer do Sol. Não viver com o mesmo desejo de existir que se deve sentir no momento do rompimento do cordão umbilical. Morrer enterrado na vida - preso na agonia do medo de definhar de amor.