segunda-feira, outubro 15

Circulo (in)finito


A porta da masmorra abre-se, sem sequer precisar do meu toque. É uma forma de "Abre-te Sésamo" numa história qualquer que contamos às crianças, enquanto estas lutam até ao fim contra o sono.
Estou pronto para uma viagem num labirinto (des)encantado.
As luzes que brilham insistem em ofuscar o meu olhar, em entorpecer o meu pensamento e a encandear a luz que resiste na minha alma.
Caminho, passo a passo num corredor sem fim.
Há pessoas que tal como eu deambulam de e em todas as direções.
Sente-se ao longe, a troca de olhares de desespero, enquanto corpos obcecados chocam uns contra os outros, numa procura perpétua e numa fuga p’ra frente.
Escuto as conversas dos outros e os risos na forma dum ruído que ensurdece.
No meio da correria há casais que se beijam, crianças que não escondem caricias, gente que se magoa e pessoas que falam do seu infortúnio.
Há também quem deambule de forma solitária e perdida neste espaço que afinal é finito, pequeno e simples coma a vida de qualquer um de nós.

As palavras que não te disse



Acordo e tu estás sempre ali. A tua respiração, toque e voz exala carinho, mesmo quando te fazes de forte. Sei que és fraca como eu sou, que deambulas à espera do meu olhar, tal como eu o faço em troca do teu. Não é só a carne que dizem ser fraca, a alma tem momentos que também o é.

A minha cabeça está cansada, parece que o meu coração é agridoce: quer ser doce o tempo inteiro, mas nem sempre o consegue; quer dizer amor mas falha e no fim faz-te sofrer. Acabando por sofrer no meio de silêncio e amargura.
Muitas vezes acuso o criador, de me ter feito desta forma e com esta essência. Sinto-me como uma obra inacabada , onde o escultor falhou o cinzel, quando procurava à pressa arredondar o que resta do meu coração.
Mas, não me perdoo de ser assim e luto para ser diferente, não me resigno à espera que o vento e a intempérie acabem a obra. Faço-o, tal como o fiz naquela caminhada na baixa, onde baixinho e discretamente choramingava para que o meu filho tivesse uma amanhã muito melhor.
Choro facilmente no cinema, mas depois quando preciso de mostrar todo o meu amor e carinho – falho.
Não quero crer, que seja destino ou que tenha nascido com um coração d’aço. 
Ainda o faço! Tal como uma criança que teme o escuro, protejo-me do remédio, do que quer respirar o meu ar, parando quando eu estou a arfar, num gesto altruísta que só se consegue ter quando se ama alguém.
Não posso ser tão desumano, frio ou inerte, sei que não, acredito que não. Mas, sinto que os que me rodeiam não o sentem, porque eu falho com a minha cabaça ocupada com o vil vento.
Mas sei que assim poderei perder de vez o teu olhar e os seus olhares.