terça-feira, dezembro 15

Diálogos soltos

-Estás ai? Estica a tua mão, procura a minha.

- Estou. Espera, deixa-me sentir as ondas a tentarem tocar nos nossos pés.

- Em que pensas? Diz-me se puderes.

- Sabes, sinto-as com carinho. Apesar de frias não se cansam de tocar em quem deixa.

- Procuras carinho, estou aqui.

- As ondas estão sempre aqui, não te posso pedir ou prometer o mesmo.

- Eu sei isso. Prometi que te deixaria voar quando sentisse que te entediava ou que já não me amavas.

- Só eu poderei ter o atrevimento de te deixar de amar? Estou a ficar velha, a minha pele não transpira a juventude – que sentiste no primeiro dia.

- Amor, agarrei-me a ti como um náufrago se agarra a uma tábua que pensou ter-se ido na última tormenta. Quase parei de me tentar agarrar. Parei. Deixei-me mergulhar. Ansiava deixar-me ir ao fundo e lá ficar. Rezei para que os meus pulmões pouco tempo resistissem. Queria fechar os meus olhos de vez – com a bela imagem dos corais que enfeitiçam o fundo do mar. Soltaria um último borbulhar que levaria a boa nova até a superfície. Talvez por momentos um pescador a confundisse com o borbulhar de um belo peixe – que já não existe mais. Não foi por decisão do Criador mas por sua e única vontade. Cruzou com o lado da vida que não queria ver, só isso.

- Eu também. Sabes que sim. Sou mais fria e contida nas palavras – já me fizeram mal: as pessoas e as palavras ditas. Não quer dizer que te queira menos. Sabes, quem nunca fez juras de amor na adolescência? E o que ficaram delas: pensamento perdido como esta areia em que tocamos, que nos encanta quando a sentimos e nos causa embaraço quando entra – sem pedir – na nossa roupa (e magoa). Mas o tempo passou e passará e estou aqui: as juras de amor – sentem-se quanto te abraço. Não as sentes?

- Abraça-me, peço-te. Deixa me mostrar que estás enganada. Prometo não usar o “nunca” ou o “p´ra sempre” quando te abraçar. Deixa que o mimo agaste o sofrimento do sofrido no teu coração. Deixa que o meu mimo faça o que a água faz à rocha. Senão o fizeres, um dia mais tarde, não saberás se teria valido a pena.

- Prometes, juras? Não o dizes encantado pela lua que nos mira em silêncio. Não o dizes a mim e a outra pessoa, com quem te encontras às escondidas? Prometes que não há mais ninguém que sente esta areia – perto de ti? Que a sinta como eu e tu a sentimos neste momento? Não quero saber quem a sentiu, apenas quem a sente.

- Abraça-me, deixa que o teu coração vibre com o meu. Deixa-me apagar o que te magoa na tua memória. Deixa-me levar a pairar. Deixa-me fazer-te sorrir depois duma corrida na praia – em que te abraço, ainda ofegante, no fim. Só se te entregares serás minha, sem deixares de ser também tua. Sem deixares de poder correr sozinha e sentir o vento como única companhia. Não te quero privar disso: nunca o farei. Se estiveres cansada em demasia: corres com mais força até me perderes do horizonte. Prometo que não irei atrás. Só o farei se gritares o meu nome com um sorriso nos teus olhos. Aquele com que me brindas no acordar. Nesses momentos – não adivinho os teus pensamentos, mas sinto o teu amor. Ah! E só existes tu!