quinta-feira, janeiro 14

Dunas

A praia está deserta com a minha companhia. A areia húmida e fria arrefece-me. O vento toca-me - carinhosamente. A lua espia as minhas expiações. Enquanto o horizonte, bem ao longe, espera por mim.
Cada passo deixa a minha marca nas dunas. Um rasto do meu passado fica impresso; permanece por algum tempo. Esperando que o vento, o mar ou as pisadas de outrem apareçam. Teriam uma forma diferente se eu não as tivesse pisado antes. Tal como o meu abraço: seria diferente se ninguém antes te tivesse abraçado ou seu eu nunca tivesse também soltado um abraço. O mais importante é caminhar sempre de forma a deixar uma boa impressão nas dunas. Tudo é mais simples do que o parece. Tudo é mais complicado do que seria senão o fosse, senão tivesse existido.
Leve, levemente, como quem chama por mim: a noite cai; sorrio. A minha eterna companheira aparece. Ela que sempre aqui esteve, antes de mim e ficará depois. Paro, sento-me; sinto cada gota de chuva. O meu corpo curvado faz com que as minhas mãos repousem na areia. As ondas batem enquanto as rochas se armam em fortes. Mas não são. Ninguém é tão forte assim. Adormeço com os olhos abertos. Apago-me em memórias e pensamentos. Espero pelo abraço e pelo teu mimo, carinhosamente em silêncio.