segunda-feira, maio 16

Poesia

Vivendo da luz de uma claraboia, dois corpos estão juntos. Raios de luz furam como projeteis a penumbra. Dois corpos (quase juntos) trocam olhares. Os olhos escuros do rapaz cintilam, enquanto os olhos claros da rapariga são o prolongamento do céu que habita acima da claraboia. A poesia vive lá e é recitada pelo olhar e não pela boca. Não precisam de falar. Só uma relação de amor profundo comunica em silêncio - trocando as palavras pela poesia. Que palavras tão doces e apaixonadas saem da boca da Maria e tocam docemente nos lábios do Hugo – não passam de palavras roucas e moucas que não chegam a ter força para fazer vibrar as cordas vocais: fluem por poesia que é amante do silêncio. Daquela jamais escrita – porque cada amor é um amor e não existem amores iguais. O Hugo responde na mesma vibração soltando: amo-te! Sem ter de se preocupar de soltar a palavra. Os seus lábios deixam de ser um instrumento da voz e duma forma sensual curvam-se na forma que a Maria mais gosta. Novo sorriso simultâneo: exultam (agora) a forma como fizeram amor na noite anterior; unidos num só corpo, deixaram-se levar. Abraçaram-se com toda a força do mundo quando o clímax se aproximou – ai, nesse curto mas feliz instante além do corpo a alma também se fundiu numa só.
A poesia é tão forte que por vezes se solta uma lágrima – um planger de felicidade, apenas.