quinta-feira, setembro 26

O meu Sol

Há uma lagrima, que desce voluntariamente, desbravando o seu caminho no meio das minhas rugas. Cai suavemente como quem distribui um mimo. De repente, num salto olímpico abandona-me para se espalmar, agora sim, violentamente, numa mesa escura e suja.

O olhar turvo não me permite enxergar ao longe (nunca o permitiu), e assim sei se te estás a aproximar ou a afastar de mim.

Este tempo todo, parece que lutei para ficar sozinho.

Já não consigo ser uma boa companhia, nem para mim, quanto mais para ti.

Se te escorracei foi a pedido do meu coração amargurado, foi a pedido da minha alma incandescente.

Quando pareceu que te ignorava, era porque me fechava no meu mundo, que é tão feio e sujo que jamais o partilharei.

Sempre, que pareceu não amar-te, foi porque tive medo que não fosse reciproco.

Às vezes, penso que sou um coração amargo, que já está velho para aprender.

Sei, que o meu corpo já não te agradará tanto, pois passo horas envolto nos meus livros e nos meus pensamentos. Sei também, que mal me alimento e que os anos me atravessam impiedosamente. Já não tenho o folego que me fazia brilhar à tona.

No entanto, mesmo quando te faço mal, sei que estás lá, mesmo quanto tento te abandonar, resistes e cada vez mais sei que sempre poderei contar comigo, e que serás sempre o meu (único) Sol (idão).