quarta-feira, maio 11

Simplesmente adeus ..

Desta vez chegaste cedo, vinhas de preto e continuavas com o teu passo apressado. Os teus olhos claros quase não se vislumbravam, pois o teu cabelo selvagem teimosamente lhes tapava a vista. Fiel a ti própria caminhas solta e sempre com um ar indecifrável. Escolhes quase sempre o preto e este assenta-te na perfeição. Esse teu ar deprimido, de rebeldia contida e de alguma loucura faz-me enlouquecer. Nunca consegui adivinhar o que te passava pelo teu pensamento, mesmo quando trocávamos mimos. Sempre achei que eras uma mulher que nunca seria de ninguém, que os teus amantes passariam pela tua vida duma forma desenfreada, num ritmo alucinado, intenso e carnal.
Pensei que não te ia ver mais, depois da nossa discussão de ontem, estavas transtornada, não escondias o nervosismo. Cigarro aceso, enquanto o anterior ainda insistia em arder no meio de milhentas beatas. Não me deste a mão, esta estava ocupada a agarrar duma forma cerrada o teu copo. Tremias, enrolavas os dedos no meio do teu cabelo e nem os teus olhos claros me pareciam iluminados. Mais um cigarro enrolado, mais um trago e não conseguiste conter uma lágrima que escorre pela tua cara, numa queda amparada rapidamente pela minha mão. O meu olhar percorria-te duma forma incansável, sentia que estaria a contemplar-te por uma última vez, ou pelo menos estaria a contemplar a mulher que eu apesar de tudo ainda amava.
Pouco falamos, e ainda bem. Nas melhoras despedidas não é preciso falar. Se nos afastamos dum amigo ele sente a nossa dor, mesmo em silêncio. Se nos despedimos dum amor, as palavras trocadas no fim, só servem para magoar, para cada um ficar a pensar que afinal o que pareceu bom foi uma coisa má.
Hoje, a última vez que combinámos um chá é mesmo a última. A dor é forte, mas ambos temos que seguir o nosso caminho, o nosso encanto terminou abruptamente. Não sei se ajudou, mas lembra-me de falar contigo de como seria o nosso fim, enquanto no teu gira-discos ouvíamos com salpicos "Love will tear us apart". Era tudo muito forte, muito emotivo e muito carnal e essa forma de viver a paixão não pode e não deve ser eterna.
Deixa-me com um simples adeus.