quarta-feira, janeiro 9

Reis Magos

Volta para não me deixares ir. Vai e regressa –sem demora - até aos meus braços.
Bati a porta com força, mas deixei-te incenso e mirra no canto. A máquina da loiça está cheia com os talheres que tocarão nos teus lábios. Fiz o mesmo com a roupa que usaste. Não resisti e cheirei-a antes de a deixar ao sabor do inebriante Skip floral. Queria ficar com a sensação de prazer. O prazer de guardar na minha memória o efeito das tuas doces moléculas que adoçam a roupa que usas e que excitam o meu nariz, o meu corpo, em particular o meu sexo.
Desci as escadas onde caímos no meio de um beijo e logo nos abraçamos. Num momento em que as feridas de sangue pouco importam quando a nossa pele está enamorada. Levantei-te com a minha mão direita, abracei-te com as duas. Toquei nos teus lábios para que a dor nos teus joelhos acalmasse, perdesse importância. Tudo é uma questão do valor que damos às coisas: felizes as almas que têm o nosso termo de comparação: a dor física de uma queda e a sua pequenez quando comparada com a dor da distancia que essa sim – me seca. .
Toquei no vidro da porta, deu para sentir o sincelo. A rua está fria. Procuro no vidro regelado a tua silhueta e não encontro. Já saíste mais cedo. Está muito frio e estou cansado. Esperarei por ti, junto à lareira enquanto sinto o deslizar suave de um disco – penso em ti. .