sexta-feira, maio 23

Voo picado nu(m) abraço

Hoje, apetece-me ver-te.
Dançar a teu lado com os meus olhos fechados.
Sentir-me a entorpecer com a melodia.
Estar e sentir os teus olhos fechados.
Não fales,
não me perguntes nada,
pois não quero responder.
Dás-me um abraço?
Não precisas de me beijar!
Só um abraço terno e longo,
que me leve numa viagem alucinada.
Continua,
como eu quero ver o teu corpo a deambular.
Como é delicioso que a musica nos iluda,
como é bom tocar-te.
Irei ser teu até ao amanhecer.
Serei novamente só eu, depois.

quarta-feira, maio 21

Amei-te quanto te vi.

Amei-te quanto te vi.
Perdi-te, enquanto te amava.
A manhã fingia ser de Outono. A esplanada estava vazia e fria. As pessoas caminhavam a passo apressado e num ritmo sofrido. Sentia-me a tremer do frio, tremia por estar só e tremia pela nossa conversa. Passavam-me pela cabeça muitos momentos: como me tocaste com a tua mão pela primeira vez, o nosso beijar tímido e as múltiplas sensações que sentimos (como se fossemos um só). Expliquei-te que tinha o meu coração ferido de morte e que a minha alma, ainda penava à procura de um rumo. Tu entendeste tudo melhor que ninguém, tinhas uma história de vida não muito diferente.
No fundo da rua, um vulto aproxima-se. Elegante e como sempre de escuro, caminhas na minha direcção. Os nossos olhares fixam-se à distância, procurando adivinhar o que o outro deseja ou procura. Estás ali, mesmo junto à mesa, a olhar para mim. Paras a menos de um metro, com o teu olhar fixo e brilhante, aproximas-te e dás-me um beijo. Da tua garganta rouca, soltas as primeiras palavras «Bom dia, como te amo!», fazes uma pausa milimétrica para de seguida, com um ar terno soltares mais um sopro rouco «desculpa, se precisei de tempo para te dizer isto…!».
As nossas mãos não perdem tempo a entrelaçam-se, o tempo para, todo aquele ruido característico do acordar do Porto fica mudo e o relógio congela o tempo. Um abraço forte, como só tu sabes, aperta-me contra ti. Dizes que adoras o meu abraço, mas afinal o teu foi o mais forte inúmeras vezes. Não consigo perder tempo, de admirar os teus lábios, cada movimento destes, mostra que és uma mulher fatal para qualquer homem. A beleza feminina entorpece, deixa os homens tontos e disposto a entregar-se ao sonho.
Estamos com as mãos juntas e com os nossos olhares fixos e ternos – num momento em que as palavras só atrapalham. Nunca entendi o que querias, nunca consegui sentir os teus pensamentos. Limitei-me a dar-te o meu mimo e o meu amor. Sabia, que precisavas de cada toque, de cada beijo, de cada abraço para aquecer o teu coração. Devolvias-me da mesma forma, por momentos apagando a dor da carência que sinto.
Uma lágrima escorre pela tua cara, num deslizar suave e harmónico - não a escondes, não te escondes, continuas a olhar para mim, como se fossemos dois amantes proibidos de o ser pelo destino.
Toco nos teus lábios suavemente, limpo a tua lágrima - quero sentir o seu (teu) salgado. Um novo beijo aparece, com um continuado olhar profundo. Nada existe a mais no cenário, tudo desapareceu - o mundo para, a mesa do café, as pessoas, o ruído, tudo parece ter desaparecido. Amar é ter o poder mágico de desligar o mundo e permitir que os nossos sentidos, apenas reconheçam o toque, cheiro e coração de quem se ama.
Afasto-me dos teus lábios, enquanto murmuro no teu ouvido «amo-te».
Fecho os olhos, sei que fechas os olhos, saio em passo apressado, sem rumo, sem direção. Tínhamos prometido que iriamos excluir o “adeus” das nossas conversas.
Amanhã e p’ra sempre estarei na mesma hora na esplanada, nunca, mas nunca irei parar de o fazer – sempre à espera do ti. Quero ser sempre o primeiro a chegar!
Escrevo estas palavras hoje, na esplanada em que tudo aconteceu e onde vezes sem conta, transmitíamos emoções sem precisar de falar. Mas, um dia não apareci e desde então nunca mais te vi.
Desde então o ”p’ra sempre” e o “nunca” ficam algemados à minha medíocre prosa.
Perdi-te, enquanto ainda te amava.