sexta-feira, outubro 4

Despedida ao amanhecer

Quanto mais te escuto e observo, menos te consigo entender.

Respiras da mesma forma que eu, mas és milhentas vezes mais bela.

Tens um sorriso único e que projeta de imediato o meu.

Mesmo quando estás irritada, consigo vislumbrar uma doçura no fundo dos teus olhos.

Como consegues mirar a tua bonita silhueta ao espelho, enquanto, em simultâneo me corriges uma ruga da camisa?

Sei que não precisavas, mas embelezas os teus olhos em minutos, e é incrível como consegues retocar o que já de si nasceu belo.

Também consegues, num ritmo único e cheio de harmonia dar cada passo, com a naturalidade de quem já nasceu com os sapatos altos, que só ontem te ofereci.

Chegou o momento e o teu último olhar é dirige-se para as flores que te ofereci. Bates com a porta e sais decidida. Sei, que tal como eu, que não gostas de despedidas.

Consigo ouvir cada um dos teus passos nas escadas. Paro a minha respiração por um momento e ouço o ranger da porta da rua.

Ficas entregue ao mundo, enquanto eu me delicio em brincar com palavras.

Por momentos paro tudo e penso em ti, penso em nós.

Nunca me fizeste qualquer jura de amor, temos apenas um único pacto – seremos (somos) um do outro, em todos os momentos em que estivermos juntos. Mas, sei e sinto que és tocada pelos olhares dos homens que cruzam o teu caminho. Sei que nem sempre consegues evitar o olhar e claro que temo que um deles te roube dos meus braços.

Mas, também sei, que sentes, ao longe, quando estou perto de outra mulher, nem o meu beijo, nem o meu abraço à chegada te afaga o aperto ou te acalma a dor.