segunda-feira, junho 6

Droga da minha vida

O meu corpo dormente mal se aguenta. Rebolo-me na cama e continuo a sentir-me privado. É uma sensação que parece descarnar a alma. Enquanto isso, o meu pensamento vagueia e acaba sempre na mesma direção. Levanto-me e procuro uma janela – a minha camisa solta vagueia com a brisa e aponta-me o sul. Os minutos passam com a mesma velocidade que uma velha carripana que no horizonte tenta vencer a colina. Estou de novo no sofá: sinto um cigarro. Perco-me a ver o bailado do fumo que se esvai e sinto a cinza quente a cair-me numa perna. Um disco de vinil ainda empurra a agulha para o final – sem sucesso; esteve uma noite à procura desse momento e ainda não o conseguiu. Levanto-me e amparo a agulha no ar – paro com o sofrimento. Agora um silêncio intimidador ainda mais só me faz sentir. Uma calma ensurdecedora espalha-se pela casa. O telefone toca – dou um salto. Atendo: não respondem. O silêncio volta-se de novo para mim. Sou eu, um sofá e um gira-discos – apenas. Tudo o resto está lá mas de nada me serve: ampara o pó; estorva o meu pé ou distrai a minha visã . Apenas atrapalha! Contínuo dormente, preciso de sentir:

- Dá-me da tua droga! Preciso dela. Esperei e esperei -preciso da minha dose. Sei que só passaram umas horas – mas não aguento mais, acredita!

Satisfaz-me com um beijo lingual daqueles que me despertam as borboletas na barriga. Deixa-me tocar-te, sentir o teu sexo e correr para o prazer. Desejo que não demore muito, mas que demore o suficiente para empolar o teu, o teu prazer. Aquele que eu não sinto, mas leio nas tremuras do teu corpo, no desvario do teu olhar. Para no fim sentir o teu abraço e as palavras doces que soltas ao meu ouvido. Estas, vindas da alma, mas, entorpecidas pelo orgasmo infinito que partilhámos.