quarta-feira, janeiro 7

Acordei

Acordo,
como se já tivesse vivido tudo a que tinha direito.
O espaço colapsou o meu tempo.
Não me encontro.
Existo (?) apenas para os outros me sentirem.

O meu olhar está turvo.
Fujo do espelho!
Sinto-me (tento):
dói-me o corpo,
matei a alma.

Na janela aprecio o nascer do dia:
belo mas lento.
Algumas pessoas já correm.
Alguns pássaros já cantam.
Tudo parece recomeçar.

As árvores escondem-se num manto branco.
Enregeladas – esperam pelos raios de sol.
Até lá, mal se percebe se vivem ou se também desistiram.
O cenário branco mistura-se com uma escuridão moribunda.
O amanhecer funde-se com o meu anoitecer (interior).

domingo, janeiro 4

Carruagem XXI

Trilhos metálicos que ora brilham, ora chiam.
Sustentados em madeira seca
que suporta toneladas de sensações.
Ligam ao infinito.
Esticam e encolhem a dor
de quem fica, de quem vai.

Exultam as emoções.
Assistem em silencia a partidas e a quem chega:
rostos oprimidos,
sorrisos luminosos,
olhos humedecidos e
abraços infindáveis.

Num piscar de olhos.
No frio e no quente (do momento).
Ora vai,
ora chega.
Vai e vem:
a carruagem XXI.