sexta-feira, setembro 4

Perdoa-me

Esperei por ti. Desejei que chegasses. Suspirei quando contemplava o horizonte e alguma silhueta me confundia. Os meus olhos e o meu coração já não são o que eram dantes, confesso. Escolhi o sítio onde te conheci: onde o mar toca a terra - meigo ou por vezes violento. A maresia toca-me e acaricia-me num vaivém delicioso. O torniquete do tempo, aperta e dói. Já nem sei o que vivi por desejar e o que perdi no meu (pobre) guião. Lamento: tudo que já esqueci. Lembro-me do que perdi: essa dor não parte. Como eu queria ter passado mais tempo com quem já não cruza (mais) no meu caminho. Desejava ter força para derrubar o céu – só para dizer: amo-te, amo-te gato, amo-te sol, amo-te lua, amo-te avó e também te amo…
Perdi (e perco) muito tempo contigo: solidão. Procuro trair-te mas volto sempre para os teus braços (mal posso). Já deixei quem eu gosto dependurado – só por ti. Já contigo vivi os melhores e os piores momentos: corri e saltei nas montanhas – a teu lado. Sinto-te num canto a observar-me. Estás comigo sem estar. Nada dizes. Nunca me tocaste. E só apareces quando mais ninguém quer. Mas mesmo assim somos velhos amantes. Peço-te- perdoa-me o silêncio melodioso.
O horizonte esmoreceu e a lua acordou. Não apareceste.
Temo que tenhas descoberto que te traí (com a solidão).
Perdoa-me.

quarta-feira, setembro 2

(super) Lua

Há uma nuvem que insiste em não passar e esconde-te: lua. Logo numa noite que dizem que vais ficar ser uma super, uma super lua. Solitária mas brilhante - ninguém te tira o lugar, mais ninguém é como tu.
O escuro ataca. Uma linha pintada no asfalto negro e áspero insiste em aparecer e desaparecer, numa intermitência que acorda. Divide-me entre o ir e o ficar. Acelero a fundo - não tenhas medo. Não te quero fazer mal. No rádio solta-se mais uma música: Nadie puede detenerme, las gasolineras me dicen adiós. Canta numa voz desgastada o Sabina. Há luzes que cruzam o meu olhar e que acabam por desaparecer no meu espelho.
O tempo passa, a lua vai e volta ao ritmo do capricho das nuvens. Abraça-me, pelo menos toca-me com a tua mão. Preciso de sentir o teu calor, mesmo sabendo que estás a meu lado. Já sabes que uma mão é do volante a outra é tua, será sempre tua. Nem que só pare no fim do mundo – continuará tua. Tal como eu já o sou. Nem sempre escolhemos o destino; parece que o destino nos escolhe (sempre) a nós.
O rádio solta um novo refrão: Vê como os búzios caíram virados p'ra norte. Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte.