quinta-feira, julho 4

Olhar p'ra sempre

O teu olhar, rasga a afoita maresia, que insiste em se intrometer. A brisa e a areia que se ergue com a ajuda do vento são as únicas coisas que neste momento, se envolvem no nosso mundo. O teu olhar contemplativo desvia-se por, e eu, aproveito para percorrer cada traço do teu rasto: é perfeito, delineado, bonito e conserva um ar irreverente da adolescência, que geralmente a vida nos faz perder. Os teus olhos são bonitos, mas densos e obscuros, como se fechasses uma enorme porta de madeira, que ruidosa e pesada, esconde o teu ‘eu’ , evitando os olhares (maus) dos demais. Os teus lábios estão pintados num vermelho intenso para esconder mil beijos trocados, se calhar nesta mesma duna, mas não quero e não devo revisitar o teu passado. A tua mão é macia e delicada, e toca-me com força, implorando um abraço terno e longo.
Mas a cinza do cigarro, cai furiosamente na areia, rebolando rapidamente e terminando por se fundir nos milhentos grãos de areia que nos rodeiam na nossa duna. Tal como os sentimentos, que quando se perdem, caem, e acabam por bater furiosamente num fundo, diluindo-se no meio do nada, deixando apenas uma centelha luminosa no meio da nossa (cansada) memória. Modificamos a disposição da areia ou mudamos o nosso coração, tudo isto, à custa do nosso desleixo.
Agora, contemplas-me, largas a minha mão, e sinto pela tua respiração que me vais dizer algo, que vem do teu coração.
Se me disseres que me amas, não sei o que te deva responder. Mas sei que se me mentires vais-me ferir de morte.
Se me pedires para te deixar, vou correr e soltar uma lagrima bem longe de ti. Mas se me pedires para ficar p´ra sempre não sei o que te responder.
Fica a meu lado, contempla a lua, não uses a tua voz comigo, abraça-me, olha-me nos olhos e vice comigo este momento, esta noite que poderá ser única.