domingo, agosto 7

Espelho meu, espelho teu

Deixo o meu olhar abandonado no meu portal: a minha janela. Um mar de serenidade enganosa encanta a vista. Uma lua que procura a companhia da lua mostra os seus bicos somente a quem os quer ver. Os Beirut ecoam, como no inicio, lembras-te? Alguns pássaros planam ao sabor da brisa moribunda. O calor afoga o meu corpo. Deixo-me levar e passeio nas lembranças do teu sofá, de como fizemos amor e como o esse amor nos uniu, Afasto do pensamento a tua porta - que bati e o todo o tempo que decidi - deixar de te conhecer. Viajo e ouço o Caetano a cantar “Sozinho” numa noite de coração frio e perdido. O tempo passou e muita coisa mudou -mas tu estás ai e eu estou aqui. E por mais que te procure não te encontro. Deixo-me ficar entregue ao cair da noite e à lua. Existirá melhor companhia para os solitários? Não sei - não conheço outra.
Sinto ao longe que estás igualmente à janela. Não tens o mar à vista mas tens um céu estrelado único. Sim e a lua também lá estará a acompanhar a tua solidão. Deixa-te levar e faz um passeio pelas coisas boas da tua adolescência. Se procurares com cuidado verás o reflexo dos meus olhos no meio de rodos de outras pessoas que tal como eu e tu a contemplam. Usa-a como um espelho, quem sabe além dos olhos também poderá reflectir os teus e os meus pensamentos - por isso a apelido de portal. Portal de quem está só, de quem sofre da distancia do amor.