quarta-feira, maio 27

A risca pintada

Há uma risca branca pintada que aparece e desaparece. Luzes tresmalhadas cruzam o meu olhar. O vento abana o teu cabelo. A escuridão intermitente ilumina-me os pensamentos. A velocidade furiosa e ritmada conduz-me. Um abraço engana o cansaço; um abraço que alimenta. Enquanto a distância vence o medo. Estás longe, estamos longe. Agarraste com força ao meu braço, agarraste com força um livro: prometeste-me que escreverias, todos os dias que estivesses longe. Ainda não me mostraste as tuas últimas palavras. E, a distância aumenta, o tempo passa e a tua escrita avança.
Uma risca branca pintada irrompe pela escuridão, serve de reflexo para o meu olhar. A hora avança. As luzes que cruzam e encandeiam são cada vez menos. O medo passa. Cuidado, há uma curva que vem, uma curva que vai: abraça-me e fecha os teus olhos. Já adormeceste, mas continuamos abraçados. Uma mão torce o volante procurando não fugir da estrada. Penso em parar e arrancar-te o teu livro da mão. Mas, a distância aumenta, o cansaço adormece o meu sentimento e a minha força. O meu corpo contorce-se de dor. Os olhos mal se seguram. Só procuro, agora, chegar ao fim da route 66.