quarta-feira, maio 17

Sopro que d'este

Empurra-me. Sopra forte no teu erhu. Que o som viagem mais rápido que a luz e me atinga no Oeste perdido. Sabes, escondo o meu olhar num biombo que ninguém quer. E espero por um chá frio que escalde o momento. Vislumbro a tua silhueta – estás nua num canto. Arrepio-me. Solto palavras tolas: que qualquer homem o faria! Acredita.

A luz talha a tua silhueta; a sombra apaga alguns relevos; o reflexo dos teus olhos encandeia o momento. Lá fora o mundo gira; as pessoas correm e o ponteiro do relógio escorrega. Corre, enquanto te deixam e procura-me na Wikipedia. Se me encontrares: grita! Se te faltarem pulmões sopra no teu erhu - de novo. Prometo, antes do Sol nascente estarei no horizonte longínquo.

Sinto o vento a rolar e a destapar o vivido. Sopra, sopra forte na colina que verte a paisagem para a tua janela. A luz vive: um branco puro exulta o reflexo nos teus olhos. Os teus abraços abraçam o abraçado: não pares. Sobe a cortina podre que serve de empecilho para a luz. Abre a janela e sente o mundo.

segunda-feira, maio 15

Bússola ao vento

Solta o comprimento de onda: sintoniza-te no som do vento que raspa no momento. Embrulha os pensamentos, deixa-os a asfixiar – pensa em mim. Espreme o momento, deixa escorrer o sumo concentrado num parapeito qualquer. Escolhe aquele em que o branco ofusca o teu olhar quando o sol bate e esbate.

Fecha os olhos, larga o teu cabelo e deixa que a velocidade te empurre para trás. Empurra a manete e vai-te até a sexta. Sente a curva que adorna o teu corpo. Agarra-te a mim. O vento é teu. Aproveita-o. Olha - como arrancamos num rugido o alcatrão negro. Peço-te: pisa a risca branca e enfadonha. Acelera sem parar.

Chegámos. Corre. Empurra a distância para trás. Olha sempre para a frente: não caias. Sente a parede do farol que acede à orla e (muito) mais além que os teus e os meus olhos enxergam. Evita a espuma raivosa que finge esmagar as rochas. Como esta se perde, mas não desiste. Mas a areia húmida arrefece os teus, os meus pés.

Corre, espero por ti – junto às pedras escaldadas da casa de praia que fica no meridiano apontado pela ponta da bússola.