segunda-feira, maio 15

Bússola ao vento

Solta o comprimento de onda: sintoniza-te no som do vento que raspa no momento. Embrulha os pensamentos, deixa-os a asfixiar – pensa em mim. Espreme o momento, deixa escorrer o sumo concentrado num parapeito qualquer. Escolhe aquele em que o branco ofusca o teu olhar quando o sol bate e esbate.

Fecha os olhos, larga o teu cabelo e deixa que a velocidade te empurre para trás. Empurra a manete e vai-te até a sexta. Sente a curva que adorna o teu corpo. Agarra-te a mim. O vento é teu. Aproveita-o. Olha - como arrancamos num rugido o alcatrão negro. Peço-te: pisa a risca branca e enfadonha. Acelera sem parar.

Chegámos. Corre. Empurra a distância para trás. Olha sempre para a frente: não caias. Sente a parede do farol que acede à orla e (muito) mais além que os teus e os meus olhos enxergam. Evita a espuma raivosa que finge esmagar as rochas. Como esta se perde, mas não desiste. Mas a areia húmida arrefece os teus, os meus pés.

Corre, espero por ti – junto às pedras escaldadas da casa de praia que fica no meridiano apontado pela ponta da bússola.