segunda-feira, abril 3

Noites de Abril

Amar pode ser bem pior que morrer. É morrer só, quando o sentimento se perde. É desviver quando a alma que escolhemos por ser (também) humana nos desilude. É sucumbir quando a dor da saudade é mais forte que o sol que nos aquece na Primavera. É mirrar quando o ciúme envenena o nosso sentimento. É penar enquanto se espera que o caprichoso telefone toque. Ou esperar eternamente pelo olhar de quem se ama, enquanto o tempo passa. É, acima de tudo, perder os sentidos e apreciar o nosso corpo a finar. Mas é amar quando se é amado.

Fugir do amor é tramado. É sair sem amparo à espera que o nada se transforme em tudo e no meio do turbilhão de uma multidão escarnada –que dói. É sentir corpos frios que procuram desesperadamente a canícula onde ela pereceu; corações que se tocam embrulhados em preservativos que se encrustaram num labirinto sem fim que se amarrou ao nosso coração; vender abraços vãos; trocar saliva (e a seringa) suja de beijos anteriores. E ao amanhecer – chorar, porque o corpo que definiu as rugas do lençol já se foi, ficou um nome, que poderá até ser mentira. Tal como tudo o resto foi e se foi.

Por isso é que cada vez mais cruzámos com corações sem abrigo - escondidos na névoa que tudo esconde, mas que é fria e húmida. Que se funde com lágrimas que escorrem no meio da solidão esganiçada. Onde tudo é aparentemente mais simples, mas mais duro. Perdidos no meio de um chat (promissor) ou de um encontro na ponta de um bar. Vadiam, sem saber, à procura de um abraço. Mesmo que venha dum corpo requentado e que já não reconhece a sua própria alma. Onde o que mais cintila é o corpo de vidro que com força agarram com a mão. E onde as vestes escorregadias tapam a penumbra de um corpo que padece de mimo e atenção.

Não pares de me resgatar todos os dias.