segunda-feira, abril 24

Azul acizentado

Como eu amo e odeio estações. Fico vislumbrado nas bonitas que mostram, com orgulho, os seus azulejos azuis ou perdido em sentimentos nas que exibem imponentemente um cinzento soturno nas suas paredes. Dou por mim a olhar sem ver enquanto passeio parado nos meus pensamentos que fogem e se aproximam – sem rumo conhecido.

Mas o negrume do cinza já significou esperança para mim enquanto que o azul celestial me fez verter lagrimas de dor e saudade. Já dei por mim a procurar o teu reflexo no escuro cruel e opaco de uma parede fria e já vivi dor na luz do azul ofuscante que tudo reflete sem ter medo. Medo de viver, medo de amar.

A luz que irradias não teme o cinza escuro que me rodeia.

As escadas que desces ajudam a esculpir um sorriso na minha cara.

As escadas que sobes impulsionam a agonia febril do meu coração.

Uma máquina sem vapor que se arrasta para fugir ou se esfrangalha para parar -nem sabe o quão mal ou bem me pode fazer. Como gostaria de ser um mestre de telepatia e controlar quem manipula a máquina para esta sempre se aproximar. Bastaria que sentisse um pequeno grão da dor que me descarna o coração e me arrelia a alma para –sempre- se aproximar e excomungar (de vez) o ímpeto de se afastar. De se ir, de trocar a tua imagem esculpida no momento por um carril sem fim.