terça-feira, março 29

Vento que se sente

O despertador berra. A escuridão resiste e apesar da muda da hora, não aparece. Alguns sonhos ainda entorpecem o pensamento: terão sido momentos vividos; premonições de momentos a vir ou meros estímulos perdidos nos (parcos) neurónios que povoam a minha cabeça de vento?
Ah! Sinto falta do (teu) vento de Suão que abana e transporta uma agrura quente e que me arrepia até a espinha. Sopra no norte, mas dizem que pode ser de leste. Que alguns sentem e outros ignoram. Que abana as árvores perto da janela do teu quarto: onde eu te imaginei seminua a pensar em mim e onde eu me senti estranho, como um intruso, no teu mundo. Onde viveste sem saber de mim, apesar de eu já pressentir – esse vento. Uns dizem que vem do sul, mas tu és do norte. Uns não gostam de mim, mas eu gosto de ti. Uns dizem que vem de leste, mas têm coração agreste.
Na tua Espanha é o vento: Solano. Abanará, igualmente, os cabelos de quem pensa em quem ama e o sente. Abanará todos os corpos que lhe façam frente. Nunca mente.
Sei que me abana, que te abana e que só com um forte abraço, não arrancará a raiz da árvore que te viu viver – junto à janela.