sexta-feira, janeiro 6

Essência perdida

Senti-te mais que tudo. Ouvi a porta bater. Não tive coragem para abrir os olhos e ver a tua silhueta a afastar-se. Partires dói mais que tudo. Não dói tanto o vento gélido que me estremece os ossos. E nem fica perto da dor que senti quando mergulhámos no mar negro em pleno inverno. Dói. Trespassa o corpo passando pelo coração e enterra-se na alma. Sente-se uma asfixia inenarrável. Sente-se: dói.
A tua essência ainda navega carinhosamente pelas moléculas da quarto. O travesseiro consola-se com a posse do teu cheiro, da tua essência. Agarro-o. Aspiro violentamente. Quero ficar com um bocado de ti em mim. Preciso de contagiar as minhas narinas com um bocado de ti. Esperar que ar misturado com o perfume passem de forma intacta até os pulmões e que estes com ternura o lancem na corrente sanguínea que inevitavelmente atingirá o meu coração. Dói menos se eu fechar os olhos e sentir. Dói muito menos, meu amor. Não demores, peço-te.
Até já.