terça-feira, agosto 30

A chuva que molha a alma.

Está frio lá fora, precisava dum verdadeiro dia de Verão para me aquecer, mas a chuva insiste em cair. Separo, bem devagar os cortinados. A janela está totalmente embasseada, mas com os dedos abro uma pequena janela para o exterior. Sinto frio no corpo e na alma. Estou definitivamente contagiado pelo estado do tempo.
Com muito esforça observo as pessoas a passar, o trânsito e a chuva que cai. Ao fundo uma silhueta aproxima-se a passo apressado. Não sei se corre por causa da chuva, se procura o conforto da casa ou se tem alguém à sua espera. Aproxima-se rapidamente e depressa concluo que não é quem eu espero.
Paro de procurar e contemplo-me a observar as gotas da chuva. A forma ritmada como estas caem para logo de seguida esbaterem no chão. Chegou ao fim o seu percurso, pararam abruptamente não por opção, mas porque assim tinha que ser.
Eis que, um automóvel desliza na estrada molhada, percebo que é uma mulher pelos traços belos e pelo lenço. Quando se aproxima da minha janela estaciona, sai e começa a caminhar à chuva enquanto telefona. Caminha a sorrir, como se a chuva não existisse, o sorriso vai crescendo e por momentos parece que olha para mim, mas rapidamente desvia o olhar. Certamente, que não vai trocar a voz de quem a acompanha pelo meu olhar de Inverno.
As horas passam e cada vez menos pessoas passam, uns sozinhos na janela como eu e alguns felizes a viver um amor.
Os meus olhos estão cansados, mal sinto o corpo e já é bem tarde. Mais uma noite que achei que ias aparecer e não te avistei. Passei o Verão inteiro à espera que o fizesses, pois o calor do sol não é suficiente para aquecer a minha alma.