quarta-feira, abril 12

Lágrimas que escorrem

Há uma lágrima que cai. Esconde-se num sorriso terno que se esvai. Mãos que quando tocam – agarram com toda força. O querer que já falta e adormece as pernas que fraquejam. O sorriso que se dilui num semblante de tristeza e de dor quando quem sorriu, já se foi: teve de ir a correr para a sua vida. Essa coisa que não sabemos bem o que é e muito menos o que nos traz. Viver é deixar ir. É rezar baixinho para que o próximo segundo não seja melhor, pelo menos igual ao que sentimos durante o aconchego de um abraço, de um mimo que escorre –com toda a força - do nosso coração e de quem generosamente o deu. É deixar ir para sempre que nós perdemos. É contar os momentos de felicidade e descontar cada lágrima que cai, quando a tristeza cinicamente nos embala.

Uma nova lágrima crua escorrega pela cara e aterra nos lábios. O sabor a salgado não chega para condimentar o tempero da tristeza; resta um quarto fechado por paredes que a cada dia mais se estreitam. O corpo, que mal reage, deixa-se viver no repouso de Dante. A mente que se perde em viagens de pensamentos e de lembrança: sente aquela vez que deu a mão e abraçou o neto; o abraço que este retribuiu; o sorriso de meninice que o alegrou; aquela brincadeira inocente duma criança que cresce e de repente já sofre como um adolescente – e que está condenado a ser adulto. Um sorriso triste acompanha o desfilar dos pensamentos. Enquanto que a mão fria, com dificuldade, escorrer para dentro dum lençol. Lençol que o acompanha em silencio e dá tudo o que tem: conforto e aconchego de calor a um corpo enrugado e resignado.

Mas que não chega. E que sabe a menos que pouco.