segunda-feira, junho 9

Ainda

Quando me conheceste descrevias a minha voz -como um tom único - que embriagava o teu pensar. Os meus olhos escuros -dizias tu- serviam para esconder a traição, o meu sofrer e o meu sentir. As minhas mãos eram descritas, como capazes de serem fortes, quando necessário, mas de serem ternas quando te tocavam. Por último: adoravas a minha barba por aparar, espelhava a minha rebeldia - para com tudo e todos (o mundo).
Ainda me amas?
Ao som do toque do telefone corria, ansioso, para ouvir a tua voz. Ligavas, para me dizer que me desejavas e que vinhas até minha casa, ou por outra qualquer razão não clara - que não irias aparecer. Já nos conhecemos há sete anos e nunca te perguntei se tinhas mais alguém, onde moravas ou o que fazias. Nunca se deve inundar, quem nós amamos, com perguntas inúteis, pois, o tempo é escasso - para dizer e sentir – tudo.
Ainda me queres?
A tua sensualidade continua a mesma; foste e serás a única mulher que me deixou extasiado. Ao contrário dos casais, não vivemos da rotina, sempre conseguimos transformar os nossos momentos em aventuras luxuriantes. Ainda te admiro, quando, depois de fazermos amor, acendes um cigarro e passas minutos contemplativa, desviando apenas e por breves momentos, o teu olhar na direção do meu.
Ainda me desejas?
Ou não passo de uma aventura que ocupa nada mais do que meia dúzia de palavras no teu diário. Sei que escreves, tal como eu, mas que não desejas que eu leia. Hoje, fiquei inseguro e, perturbado, quando ao ouvido me disseste que a minha escrita já fazia parte de ti, que não vivias sem ela: que esta, era tão importante para a tua alma, como o sangue que corre nas tuas veias do teu belo corpo. Depreendi, que viverias sem mim, com alguma facilidade; que aquilo que nos ligava eram as palavras, se calhar porque sou mais fácil de ler: pelo que escrevo.
Ainda procuras a minha escrita?