segunda-feira, março 19

Corpos

I.
Corpos que se abraçam à minha beira. Enquanto nuvens fogem ao sabor do vento. Enquanto enxergo a chuva a morrer com a Primavera que se encosta, lá, no horizonte.
Entretanto, um corpo preso balança no fio da navalha. Esconde-se do dia-a-dia que é frio e soturno. Imóvel e só deixa-se perpetuar em pensamentos. Deixa que o tempo flua, escorregando numa desmesurada ampulheta cujo peso – não se mede em quilogramas, mas sim em - dor.
De que vale tentar entender o que não é entendível; soprar para nada empurrar; erguer o que está encrustado (perpetuamente); tentar tocar o horizonte – onde o sol repousa do dia. Pouco sei de viver: vivo de corpos que se abraçam e de moléculas de ar que não se conseguem escapulir.

II.
Corpos que se abraçam à minha beira. Enquanto penso em ti. Enquanto revisito-te em pensamento. Sim, foi na Primavera que te deste a conhecer.
Entretanto, cresces-te. E, já sofro baixinho, enquanto me escondo atrás de uma esquina longínqua. Peço-te: corre sem olhar para trás. Rapidamente aprenderás que tudo se esgota num pestanejar qualquer. O que importa: tu sentirás, sempre.
Sei que vale a penas entender o que ¬¬sentes. Procurei ensinar-te: onde nasce e onde morre o Sol; a soletrar: gosto de ti -sem vergonha de o fazer; a empurrar o vento com a nossa vontade; e, a abraçar. Pouco sei de viver: vivo de corpos que se abraçam e de moléculas de ar que não se conseguem escapulir.

“Vais ouvir e ver
Mais vale nunca
Nunca mais saber
Mais vale nada
Nunca mais querer
Mais vale nunca mais crescer”.