quarta-feira, maio 6

Rugas no coração

Encontrei o teu lenço. Estava perdido no meio das minhas coisas. Não resisti, peguei nele com toda a força, amarrotei-o. Abracei o lenço – como quem te abraçou. Lembras-te, aquela vez, que te abracei com tanta força que nem conseguias respirar: asfixiei-te com o meu amor e (sem querer) amarrotei o teu coração.
Lentamente, deixei cair a minha mão. Deixei o lenço junto da tua carta – a tua última carta. Aquela que me explicaste o inexplicável. Ias embora, dizias tu, porque me amavas demais. Ias embora porque já não aguentavas (não me ter) quando eu saia para trabalhar. Sentias-te sozinha quando eu me mergulhava a escrever, contigo no meu colo. Ias embora porque quando fazíamos amor sentias o que não era possível sentir. Ias embora porque já te doía amar-me dessa maneira.
Guardo religiosamente todas as coisas que deixaste para trás. Sinto que não voltarás. Imagino-te à procura ou a viver um novo amor. Nunca tão forte, nunca tão próximo. Guardo muito de ti, mesmo quando saio com outras mulheres. Penso em ti quando elas me tocam. Comparo-as em cada detalhe com o que tu foste para mim. Deixei de entregar o meu amor, deixei-me à deriva empurrado por cada delícia de um beijo ou pelo calor de um abraço (terno). Mesmo noutra vida (que possas ter) há uma parte só nossa - imortal e única, que nem eu nem tu conseguiremos expurgar. Espero que um dia voltes para me dares o último abraço e seguires o teu caminho, com o nosso amor ao lado – silencioso mas omnipresente.

domingo, maio 3

X

O dia acordou triste: chovia. Sabia que ias partir.
Os meus olhos não conseguiram esconder o que o coração sentia. A chuva caía: mil gotas atingiam a janela. O tempo passava: mil sensações de angústia tolhiam a minha alma. Procurei alimentar-me com o X – o nosso X. Não é primo, não é ímpar e não soa bonito mas é nosso. Resistiu, não cedeu, afugentou os medos, correu, sentiu, cresceu – mesmo quando a tormenta era tão forte, que com a ajuda da distância pareciam querer deitar tudo a baixo.
Nem os trilhos cruzados e descruzados que levam tudo e todos – duma forma fria e crua foram capazes de o impedir.
Duma aparente ilusão (inicial) e depois de alguns passos de medo, o sol parece espreitar. Acredita! Uma bonita floresta já não é somente uma pintura do horizonte. Sente: como o verde é tão bonito que contagia. E o azul do céu que parece ofuscar? Para, olha, dá-me a mão – olha à tua volta! Lentamente, a tristeza irá passar por um peneira que deixa (para trás) tudo o que não importa (mais).
Abraça-me.
Aperta a minha mão: já podes (agora) abrir os teus olhos!