quarta-feira, maio 6

Rugas no coração

Encontrei o teu lenço. Estava perdido no meio das minhas coisas. Não resisti, peguei nele com toda a força, amarrotei-o. Abracei o lenço – como quem te abraçou. Lembras-te, aquela vez, que te abracei com tanta força que nem conseguias respirar: asfixiei-te com o meu amor e (sem querer) amarrotei o teu coração.
Lentamente, deixei cair a minha mão. Deixei o lenço junto da tua carta – a tua última carta. Aquela que me explicaste o inexplicável. Ias embora, dizias tu, porque me amavas demais. Ias embora porque já não aguentavas (não me ter) quando eu saia para trabalhar. Sentias-te sozinha quando eu me mergulhava a escrever, contigo no meu colo. Ias embora porque quando fazíamos amor sentias o que não era possível sentir. Ias embora porque já te doía amar-me dessa maneira.
Guardo religiosamente todas as coisas que deixaste para trás. Sinto que não voltarás. Imagino-te à procura ou a viver um novo amor. Nunca tão forte, nunca tão próximo. Guardo muito de ti, mesmo quando saio com outras mulheres. Penso em ti quando elas me tocam. Comparo-as em cada detalhe com o que tu foste para mim. Deixei de entregar o meu amor, deixei-me à deriva empurrado por cada delícia de um beijo ou pelo calor de um abraço (terno). Mesmo noutra vida (que possas ter) há uma parte só nossa - imortal e única, que nem eu nem tu conseguiremos expurgar. Espero que um dia voltes para me dares o último abraço e seguires o teu caminho, com o nosso amor ao lado – silencioso mas omnipresente.