terça-feira, março 17

Prometo que vou tentar escrever.

Sinto falta do cheiro e do toque do papel. Preciso sentir o deslizar da caneta – suavemente – no meio da seda das palavras (ásperas). A solidão desfaz-se em mil nacos. A escrita flui sem sentido e sem rumo. A conversa entre a minha alma e a mão (que escreve) é um diálogo mudo. Um mensageiro fiel e inerte serve de fio condutor. Ousar entoar uma frase “solta” é arriscado. Tentar repetir uma rima é pecado e pensar em recriar a entoação original é dúbio. É um privilégio de poucos – comunicar em silêncio. Consigo-o quando escrevo; quero continuar a falar contigo - meu amor, enquanto os teus olhos passeiam nos meus (e os teus lábios se encolhem). Nenhuma silaba – é necessária: um olhar e um toque (solto) de mimo chegam.
Sentes o que escrevo agora? Sentes o que vou (ainda) escrever? Peço-te, sente o papel a amolecer, suavemente, como num toque de veludo, como num mimo lento que te deixo. A tinta que inicialmente parece criar uma forma difusa: solta-se, espalha-se, matura e deixa a impressão fina e doce de uma letra; a silaba já se perfila; a palavra está ansiosa por nascer e por último a frase espelha o sentido - quando a tinta secar.
Envio-te o meu mensageiro a entoar uma melodia:
“Someone send a runner
For the feeling that I lost today
You must be somewhere in London.”