quinta-feira, abril 2

Desejo de CANONizar

A descer a rua, sentindo bem na cara a brisa, enquanto um eléctrico desliza de forma estridente nos trilhos, faz-me querer ter ali bem à mão a minha máquina fotográfica para congelar o momento. Uma fotografia tem mesmo esse poder, que nem todas as pessoas conseguem sentir, congelamos um acontecimento, uma vista, um momento e quando o revemos (e duma forma egoísta) conseguimos por momento fechar os olhos e sentir um conjunto de sensações únicas. È como que se eu fechasse os olhos e conseguisse vislumbrar o momento, sentir os cheiros a mesma brisa que arrefeceu, apenas olhando para uma imagem estática e fria impressa num pedaço de papel.

Pode parecer incrível, mas consigo-o sentir mais intensamente quando aprecio uma foto a preto e branco, é como se o supérfluo das cores não me distraísse do objectivo essencial, que é reviver aquele momento e a sensação que me fez fazer o click.

Muitas vezes dou por mim, a invejar a vida daqueles que passam todo o tempo que podem a imortalizar os momentos que vivem numa fotografia, é uma liberdade de escolher o que fica registado, o que realmente importa, o que é acessório, sem precisar de o justificar, sem precisar de pensar no porquê.

É esse o meu desejo, envelhecer a CANONizar a realidade que me atrai.

O destino

Às vezes enquanto ando no metro, vasculho à minha volta o olhar das pessoas, nem que elas não me digam nada, mesmo quando as pessoas são feias, descuidadas e repugnantes.

Mas isso, não impede de dar por mim a pensar porque estamos ali, naquele momento único, a partilhar uma viagem, o ar que respiramos a ver as mesmas imagens quando o nosso olhar se centra na janela.

Qual será a diferença na nossa vida, se perdermos aquele metro? Deixo de dizer um bom dia a alguém que conheço, deixo de ter de me desviar, de ter que partilhar o meu lugar com alguém bem cheiroso. Mas será que a minha viagem pelos meus pensamentos será a mesma, vou deixar de cruzar na rua com aquele automóvel que me insiste em atropelar.

Como tudo seria diferente, se eu não te tivesse dito aquilo ontem à noite, pelo menos não estaria aqui envolto em remorsos e em pensamentos cinzentos.

Quando me esqueço do relógio, e volto atrás naquele ultimo momento, mesmo antes de sair de casa, será que isso fará alguma diferença na minha vida. Se acreditar que faz diferença estarei a acreditar num suposto destino, que pelo menos me conformará quando as coisas correrem mal. Posso sempre achar que todo o mal que me aconteceu se deu porque era esse o meu destino, mas isso faz-me sentir como que num filme – passivo, onde nada posso fazer para inverter o sentido das coisas. É cómodo, é adequado para quando nos sentimos com aquela preguiça matinal, que não mais tem fim.

Momentos di(vividos)

Entre momentos vividos,

ladeados por sensações.

Envoltos na bruma,

na constante procura.

Soltam-se palavras,

hinos e gritos,

vindos do nada,

mas com algum significado.