quinta-feira, abril 2

O destino

Às vezes enquanto ando no metro, vasculho à minha volta o olhar das pessoas, nem que elas não me digam nada, mesmo quando as pessoas são feias, descuidadas e repugnantes.

Mas isso, não impede de dar por mim a pensar porque estamos ali, naquele momento único, a partilhar uma viagem, o ar que respiramos a ver as mesmas imagens quando o nosso olhar se centra na janela.

Qual será a diferença na nossa vida, se perdermos aquele metro? Deixo de dizer um bom dia a alguém que conheço, deixo de ter de me desviar, de ter que partilhar o meu lugar com alguém bem cheiroso. Mas será que a minha viagem pelos meus pensamentos será a mesma, vou deixar de cruzar na rua com aquele automóvel que me insiste em atropelar.

Como tudo seria diferente, se eu não te tivesse dito aquilo ontem à noite, pelo menos não estaria aqui envolto em remorsos e em pensamentos cinzentos.

Quando me esqueço do relógio, e volto atrás naquele ultimo momento, mesmo antes de sair de casa, será que isso fará alguma diferença na minha vida. Se acreditar que faz diferença estarei a acreditar num suposto destino, que pelo menos me conformará quando as coisas correrem mal. Posso sempre achar que todo o mal que me aconteceu se deu porque era esse o meu destino, mas isso faz-me sentir como que num filme – passivo, onde nada posso fazer para inverter o sentido das coisas. É cómodo, é adequado para quando nos sentimos com aquela preguiça matinal, que não mais tem fim.