terça-feira, abril 15

Transcrito o escrito

«Quase gosto da vida que tenho. Não foi fácil habituar-me a mim. Tive de me desfazer de coisas mais preciosas, entre elas de ti. Sim, meu amor, tive que escolher um caminho mais fácil. O dinheiro também tem a sua poesia. E tenho tido sorte.
Deixei para trás a obrigação de mudar o mundo. Corrompi e fui corrompido. Ainda sinto dificuldades em mentir, mas também aqui vejo melhoras. Trata-se só de deformar ligeiramente o que vai acontecendo, não de inventar tudo de novo. Tenho mais alguns anos diante de mim e depois quero acabar de repente. Não sei se valeu a pena mas também não me pergunto se valeu a pena, Há coisas assim»

«Não sou mais do que um fundo poço.
Sou extremista em individualismo, em determinação, em teimosia e em solidão. Em egoísmo, em ambição, em amor-próprio. Desafio-me com facilidade para lutas cegas. exigo metas distantes, invejo todo o saber, autorizo-me qualquer tipo de iniciação. Tudo me urge. Não posso apreciar o chamado 'ócio'. Os planaltos são-me insuportáveis. Prefiro as quedas repentinas. É aqui que entras tu, meu amor.»

Texto retirado de Pedro Paixão - A noiva judia.