terça-feira, outubro 14

Confissões

Confesso – que mal me contento com a vida que levo.
Confesso – que perdido, deambulo ao sabor do vento.
Sim,
amo o olhar da lua – contemplativo e ao mesmo tempo: terno.
Linda e brilhante: parece esconder um belo rosto de mulher.
Olha para mim, acompanha-me à noite, mesmo quando me perco com outras mulheres – sem o seu brilho no olhar.
Sim,
apaixonei-me pelo Douro, sinto-o desde que me lembro de viver; a sua corrente já arrastou milhentos pensamentos, emoções e sensações.
Como por magia tudo diluiu, no seu leito (generoso).
Confesso – que escrevo o que não vivo, mas desejo.
Confesso- que escrevo o que não digo, mas sinto.
Devo escrever, porque não sei viver ou porque não me enche a vida que (mal) carrego.
Só quando escrevo, consigo escolher os mais belos e horrendos cenários; apenas deixo a caneta fluir e recriar.
Não penso o que escrevo: temo contaminar as letras e palavras soltas -com a alma doente.
Por isso, não escrevo com a aspiração que seja lido – nem eu o consigo fazer.
Escrevo sobre: amor, paixão e desamor; mais do que já vivi.
Sou generoso na escrita, mas a minha voz rouca (ecoa da alma): frieza.
Confesso- que sou o que a vida me fez.
Confesso- que a preguiça entorpece o meu ser.
Mas,
sinto o tempo a fugir, como grãos de areia duma praia deserta.
Sim,
Acalento amar; amar desesperadamente; duma forma tão violenta – que seque definitivamente as minhas lágrimas (interiores).
Já não tenho muito tempo para viver, mas sinto que sobra tempo para escrever.
Confesso- quero muito amar.
Nem que o calor da paixão adormeça a minha caneta – mate a minha (sofrida) escrita e me roube o tempo que tenho em demasia.


Publicado na colectânea "Confissões" a 20 de setembro de 2013.

segunda-feira, outubro 13

Sex(t)o Sentido

Lá fora cai a chuva, cai a noite. Uma janela mal permite olhar para a rua, tal é a nossa transpiração. Corpos entrelaçados e adunados, sentem-se, vibram como um só.
Olhos fechados, pensamento solto e egoísta, em sentidos empedrados pelo momento.
Os lábios tocam-se, o meu peito toca o teu, a minha mão esquerda abraça a tua. Sinto forte a batida do teu coração, numa batida harmónica - acompanha o meu.
Um abraço forte e estou a teu lado prostrado; admiro o teu olhar de êxtase. Os teus olhos não mentem, mas também não são decifráveis: misturas um ar terno, com algo sofrido e misterioso.
Dou por mim a contemplar o teu tecto branco, deixando os meus pensamentos soltos. Dou-te tréguas: paro por momento de te olhar profundamente.
Afasto os pensamentos do que já fui, do que já vivi, do que já sofri e peço-te, de forma terna, ao ouvido para fazeres o mesmo. Não quero, não posso deixar que o passado tolha o nosso dia, a nossa vida.
Trocamos timidamente alguns mimos e solta-se o verbo: amo-te.