segunda-feira, maio 23

Maio perdido por ti!

Não foi um Maio qualquer: foi um Maio perdido. Apetece-me engolir um comprimido e acordar no Verão. Um comprimido, que até possa doer a engolir, daqueles grandes e feios que curam tantas pessoas como aquelas que acabam por morrer de asfixia. Ah! Quase morri de asfixia de amor quando te conheci. Foi em Maio, lembraste? Um Maio quente, numa noite que sucumbiu depressa à luz da madrugada. A luz da madrugada foi tão rápida quanto a luz do meu isqueiro, que com vontade própria, deu o fogo que o teu cigarro, desesperadamente, procurava. Antes de o desejares, já os meus dedos empurravam o cilindro que acorda a pedra e solta a chama. Seguiu-se o tom laranja dum cigarro que fez brilhar os teus olhos. Contudo, a luz da madrugada não conseguiu ser tão rápida como a voracidade com que te arranquei a tua mão e a uni à minha. Estava nesse momento feito um pacto: não largaria a tua mão, enquanto tu o quiseres. Viajarão pelos momentos, pelo mundo juntas como se uma só se tratasse; a largarei apenas por alguns momentos – para te abraçar e assim sentir o teu corpo colado ao meu.
Num espelho dum elevador, timidamente arranquei-te o primeiro beijo. Preciso de repuxar a minha memória de adolescente para me lembrar de algo semelhante. O elevador subia e os nossos olhares ainda mal se conheciam – mas já exalavam cumplicidade. Sim, cumplicidade, algo que mal reparámos, mas poucas vezes na vida nos acontece. Até podemos ter cumplicidade com o motorista do autocarro que nos deixou entrar fora da paragem, mas poucas vezes a conseguimos com a pessoa que dorme nos mesmos lençóis que nós. O sexo até pode ser fantástico, mas no fim, enquanto fumo um cigarro – os olhos da rapariga não me sentem. Não conseguem entender se o meu grito no final foi de prazer ou de raiva da vida. Se foi por cansaço – mais uma vez que satisfiz o desejo do corpo mas não o da alma. Tu conseguiste penetrar pela minha retina e sem receio ler-me a alma. Ver o quanto esta estava cansada de procurar estar só e o quanto isso doía.

Não foi um Maio qualquer: foi um Maio perdido e sem coragem. Nunca teve a força suficiente para se soltar do Inverno e também nunca abraçou o Verão.

Quero que este Maio passe rápido por tudo e por todos mas menos por ti.