sábado, abril 4

Vento de solidão

-Vento, vento e vento, exclamas.
A janela aberta serve de porta para mil essências. É à noite que as flores agradecem o dia solarengo - soltando o seu belo perfume. A lua solitária contenta-se em ser um espelho tímido do Sol. Impávida e serena ilumina na proporção certa o teu jardim. Espalhadas em harmonia pelo céu, as estrelas oferecem o seu brilho. Escolhe uma - será a guardiã dos pensamentos, desejos, preocupações e sentimentos. Não precisa de ser a mais brilhante -tem de ser tua - minha, nossa. Somente.
Um cigarro arde; um gato ronrona - no meio de pensamentos. Ao fundo uma capela fecha a tela e prepara a transição artística para o horizonte.

Também ao longe, uma janela num enclave de betão deixa mirar menos de um quinto do céu. A brisa substitui, com ternura, o vento. Toca-me de leve como quem sopra um mimo. A lua não aparece. Escolheu-te só a ti. Algumas silhuetas rasgam a noite. Apressadas movem-se,parecem temer o avançar da noite. Um cigarro também arde. O cheiro intenso do fumo - forma a minha (única) essência. Contemplo o bailar do fumo. Desejo que este empurre o meu olhar para a estrela que escolheste. Será essa a nossa estrela. Fecho por momentos os olhos cansados e relembro o ar terno e pensativo que soltas ao deitar.
Fecha os olhos e dança comigo!

-Sinto-o, sinto-o e sinto-o. Exclamo só na escuridão.