terça-feira, dezembro 13

Outono (fingido)

I.
Escorrego na mentira. Tropeço no gatilho da traição. Esqueço o Natal e disfarço-me de vilão (extremoso). Faço zapping, preciso de mudar de canal: não me quero ver mais na tua smartTV. Apaga a minha silhueta do teu subconsciente. Faz como se fosse um dente (de leite), deixa-o cair. Não precisas de fingir.

II.
Acendo o cigarro e deixo-o a flamejar. Sei que me mata. Se não for ele – será a vida. Se não for a vida será um amor estilhaçado; um pedaço de alma que cai no pandemónio do purgatório. Por isso, carrego com uma cerveja: brindarei com o Rimbaud. Abafo (no sovaco) um livro do Pessoa que me irá desassossegar; um disco do Cohen que me fará inebriar.

II
Quero voar, pular e saltar. Perceber o que esconde o horizonte. Ler o que vai além da minha vista. Mirrar a confabulação dos outros. Silenciar o silvo dos pássaros que se travestem de serpente. Apagar a memória. Borratar a glória. Correr sem medo no escuro. Respirar dentro de água. Deixar brotar o que a alma carrega. Mostrar no Paraíso como o (meu) coração rima.