segunda-feira, julho 10

Embalado ao vento

Não sei se o vento tem força suficiente para transportar a minha voz ou arrastar a minha alma para perto de ti. Mas sei que gosto muito dele, sempre gostei. Vejo-o como quem consegue amar um incompreendido: que fala e sente, mas que ninguém quer acariciar; que mexe em tudo o que quer sem se fazer notar (com a caricia de um mimo); que sozinho corre e varre os campos verdes que com ele cruzam, que com ele coabitam.

Esquecem-se que é ele que abana gentilmente as folhas das árvores na Primavera. Fazem de conta que não existe e retiram-lhe mérito de empurrar as nuvens cinzas que afloram no Outono. Não agradecem as ondas de calor que acariciam numa noite de Verão. E nunca entendem que é graças a ele que a chuva se inclina molhando o teu vestido branco e permitindo, assim, apreciar cada centímetro do teu corpo - como se de um nu artístico se tratasse.

É esse o problema da humanidade: esquecimento, o faz de conta, falta de um obrigado, o não entender.

Não saber amar o simples, ter medo de abraçar quem passa – só porque verteu um sorriso. Não acreditar que os pensamentos de amor viajam empurrados pela brisa meiga e chegam até ti, até quem se ama – sempre.

Não chorar no escuro do cinema, ter medo de perder os pensamentos num qualquer nascer do Sol. Não viver com o mesmo desejo de existir que se deve sentir no momento do rompimento do cordão umbilical. Morrer enterrado na vida - preso na agonia do medo de definhar de amor.