sexta-feira, julho 14

Vai e vem, se

O farol fusco vive o entardecer. Enquanto que a luz que veio, vai-se. Perco-me entre a beleza de perdição do horizonte e os teus olhos. Escolher entre o paraíso que transmite um laranja torrado enternecedor e o azul ofuscante (dos teus olhos) que se funde com o mar é das equações matemáticas mais complexas que já tive.

Perco-me a fazer contas com o teu cabelo, por isso te pedi que não o cortasses, lembraste? Toco-te ao ritmo da ondulação leve que vai e vem. Solto uma pedra e abraçados contamos os círculos infinitos que se formam. A forma como viajam - sem medo- e param apenas quando chocam com a pedra fria que tresanda a lodo. Quero que o nosso sentimento seja ainda mais forte - resista; que ganhe raízes e reúna mil forças do Universo para despedaçar em milhentos bocados qualquer calhau intrometido na nossa caminhada. E que gere fragmentos que sejam tão pequenos que o microscópio mais poderoso do mundo desista: nunca os consiga vislumbrar.

Entretanto, a maresia embala o nosso abraço. Um reflexo frágil do farol usa como espelho a água calma e terna que mal se move. Agora, a lua que se foi, volta; o vento que fugiu, regressa em força – tal como sentimento que perdi e encontrei ao teu lado. Dá-me a mão e peço-te: ajuda-me a parar este ciclo perpetuo de dor - do ir e ficar no escuro à espera, enquanto o coração chora, enquanto esperámos pelo voltar. Sozinho não conseguirei.