quinta-feira, setembro 7

Nozes

O sol esmorece e deixa-se cair junto ao mar. Alguns resistentes molham os pés enquanto se deliciam com o maravilhoso crepúsculo. Eu perco-me a fazer e a desfazer nós no teu cabelo. Espero que não te canses, penso eu. Se te cansares: diz-me sempre. Ah! E não tolhas o teu olhar comigo: olha à tua volta e sente o entardecer a acariciar-te. Traí a minha objetiva para me teres na integra. Não te quero sentir atravessada por uma lente bassa; quero que a luz moribunda continue a medrar o teu olhar.; que esta não se venda já à noite e resista com todas as forças que tem e vingue a luz do dia até ao último segundo.
Perdidos num bar junto a uma praia que arrefece, vertemos beijos doces. E não peco tempo com os outros: em contraluz mal distingo as várias pessoas que tal como eu escolheram um copo para o entardecer. Enquanto, uma folha de Hortelã-pimenta escorrega do copo e (agora) jaz só na mesa. A musica e o ambiente vibram e fazem-me sentir num domingo virtual. Só no domingo é que eu consigo sentir com extrema intensidade uma calma e ao mesmo tempo uma certa angustia que rói a alma. Mas, continuo a brincar com os nós no teu cabeço, sem nunca deixar de apreciar os teus lábios.
Lá fora, os pequenos grãos de areia vivem do vento, tal como tu. Juntam-se todos emperlados no pico de uma duna para logo de seguida deslizarem e tudo voltar ao inicio. Desta vez com novas formas desenhadas. Uma mulher que passeia na praia confunde os grãos de areia solta. Tal como os nós no teu cabelo: são criados e recriados constantemente.
A bruma escorre do mar, a sombra invade o espaço enquanto que água do mar sobe. E vence o querer do teu cabelo que com a ajuda do vento – solta-se definitivamente dos nós. Enquanto isso, nós repartimos um abraço longo e forte junto à areia fria e húmida que bebe da água salgada que atravessa continentes.