segunda-feira, novembro 14

Trilhos

Um céu cinza claro ofusca a vista.
Algum vento moribundo abana o teu cabelo.
Uns Azulejos: retratam um momento.
Um relógio sujo que marca às horas – com raiva.
Uma voz rouca que salta duma corneta.
Uma gabardine que entra.
Uma saia curta que tropeça.
Uma gola alta que pica
e
um cimbalino que se entorna.
Um sopro de fumo que sai projetado da tua quente boca.
Algumas folhas que padecem de desapego e viajam sós até o trilho:
Trilho que cruza e descruza de norte a sul.
Trilho que serve de colo ao comboio que irá passar.
Já se sente ao longe o chiar do comboio.
A gola, a saia e a gabardine correm:
deixam o cimbalino só.
Já se sente: uma dor que perfura,
que trespassa e aflige o coração.