segunda-feira, outubro 31

Luzes desgarradas

As luzes deixam o seu rasto na noite: num bailado descoordenado cada chama alimenta uma história. O tempo passa numa dimensão atrofiada. Enquanto o sentimento jaz no fundo do coração. Olho para um sorriso de uma criança e rezo para que este me arranque do coração – alguma parte que dói; que me ampute da alma - a saudade, que me solte das cordas ou que impiedosamente as puxe. Que se solte um silvo estridente e tudo passe a cinzas. Que o céu deixe de ser azul e o mar se esqueça de ondular.
- Se eu pudesse tinha feito e dito que…! De que vale eu saber escrever o que viaja pelas entranhas do meu cérebro, se pouca força tenho para soltar na forma de uma melodia que mal atraca e não se solta pelas cordas vocais. De que vale ter voz – se esta nos trai e diz que disse, quando só ecos de silencio se espalham pelas moléculas do ar que carinhosamente te tocam: te tocavam, te tinham tocado – já que nem cá estás para ouvir.
Se eu pudesse tinha ido ter contigo mais vezes. Ter soletrado ao teu ouvido: amo-te.
Deveria ter atirado todos os meus escudos para o ar, sorrir e trocar por abraços: tinha ficado tão mais rico, sabes?
Esticado o tempo, corrido contra o vento e a tempestade para te vislumbrar: em silencio, sabes é quando mais falo, é quando mais te digo na forma de um sopro delicado: amo-te.