terça-feira, outubro 2

Taberna dos Esquecidos

Esqueci-me, perdi-me, esqueci-me de mim, perdi-me no fio do tempo.
O tempo passou e não voltou.
Dou-me mal com o tempo, faça chuva ou faça sol. Sinto-o a esvair-se numa peneira feia e gasta.
Invejo os físicos que sabem que o tempo varia com a velocidade da luz. Eu, sou arrogante, e postulo que o tempo varia: inversamente proporcional à dor e ao tédio.
Parado, faço anéis de fumo na Taberna dos Esquecidos - enterrada lá para as bandas de Cedofeita. Num balcão sujo e escorregadio, um co(r)po de cerveja que beija a minha boca faz-me companhia. Ao lado centelhas de corpos mutilados que esperam que o tempo (também) passe.
Aqui a unidade temporal é o fino: na forma de fio de liquido amarelo que escorre ruidosamente e se enfia nas entranhas das goelas. Um vibrato (interior) imita o tic-tac que empurra o ponteiro pesado do tempo.
Agacho-me, empurro a porta que se fecha.
Seguro a parede que não cai.
Espero por ti.
(Até) empurro o vento, se me pedires.
Mas, não demores.
Por favor: vem e vence o contratempo.