segunda-feira, janeiro 8

Afogada nas letras

Encontrei-te, perdida, no meio das páginas de um livro. Já não me lembro qual, apenas sobrevive a imagem do brilho dos teus olhos. E não precisei de muito tempo para procurar a tua mão: e desejar verter um bocado do meu calor no teu corpo, mais tarde descobri que ansiava apenas - o teu toque, naquele momento. Como eu sentia que tinha força para te resgatar da página!

Mal respiravas no meio das letras negras e cravadas num fundo branco. Sentia-se a tua angustia no meio dos parágrafos talhados para perfumar o leitor com emoções. Foste vitima de outros olhares, soube depois, e que nem todos foram bons. Talvez por essa razão temeste o meu e fugias sempre para a página seguinte.

Não desisti. Só desisto quando acho que não vale a pena. Senti que podias ser especial. Que viver a solidão no meio das letras, das frases, do s parágrafos, dos capítulos tolheria qualquer um. Escreve-se, julgo eu, para fazer o curativo da alma, do coração. A escrita é como uma veia que rebenta e jorra e para todo lado quando o sangue fervilha e não aguenta mais a clausura a que o corpo obriga. Pensei: só pode ser insuportável viver– o sofrimento da solidão ampliado pela dor da escrita de uma alma que pena e por isso: escreve.

Por isso te entendi. Por isso esperei.