terça-feira, dezembro 5

4 Estações

I.
O Verão foi-se. E como eu adoro sentir o teu sabor a sal e os pequenos grãos de areia colados no teu corpo - a roubar espaço à minha pele que também te deseja. Gosto de te beijar enquanto os salpicos de mar te acariciam, mesmo quando fazem soltar um leve arrepio. Desejo: contemplar-te ao longe e ver-te a sair de um banho. Chegar a casa e soltar as poucas roupas que trazes e fazermos amor na forma de uma tempestade boa que como por magia adormece o corpo, sem nunca deixar de despertar o teu, o nosso prazer sublime.

II.
Chegou o Inverno e com ele a necessidade de abrigo e aconchego. Procura-se mais a proximidade apenas para sentir o calor humano que precisámos. Gosto de olhar para o mar enquanto a chuva cai, sentir o vento a fustigar o todo e os relâmpagos a acordarem o horizonte. Procuro abraços eternos que acima de tudo me aqueçam o coração. Desejo sentir-te perto de mim enquanto o mundo lá fora se desfaz: dissolvido pela chuva e agastado pelo vento.

III.
Na janela, solto a alma e espero pela eternização do momento. Ouve-se um click enquanto abraço a minha Holga. Afasto-a. Fica agora pousada no meu colo. A chuva não desiste. O frio de nada padece. Enquanto isso penso em ti. Afasto da cabeça a imagem do comboio metálico e frio que te levou e a seu belo prazer te irá trazer. Não sei como e nem quando. Odeio relógios: são eles que nos matam ao desenrolar a corda do tempo que consome a vida, foram eles que ditaram a tua ida e escolherão a tua vinda. Acordo e estás ali ao meu lado. Sorrio, fecho os olhos e abraço-te ao som da melodia da chuva.