quinta-feira, outubro 12

Out(r)ono

As folhas caem, com o sentimento de dever cumprido, de arvores depenadas pela estação que chega: duma forma doce; descrevendo bonitos movimentos - como se de um bailado ensaiado se tratasse. Foi essa a forma que a natureza encontrou para descrever e enaltecer o instante da mudança. No momento de despedida dos ramos da árvore: as folhas desenraízam-se e adquirem o direito de voar e se deixarem impelir pela terna brisa que enfeitiça o nascer do dia. Sentem pela primeira vez um genuíno sentimento de poder- de realmente viver, curiosamente na altura em que o seu propósito de vida na arvore se esvai. Os humanos são parecidos, penso eu: só se devem sentir realmente livres quando flutuam longe do seu corpo podre que perderam. No entanto – sempre foram livres – mas não o sabiam, não o sentiam.
Parado, continuo a admirar a melodia do movimento e o meu pensamento desvia-se, por momentos, para ti. Já não estás perto. Saíste a correr pela porta no momento em que os meus olhos cerrados fechavam as cortinas dos meus sonhos. Vivia o momento final: a Princesa soltava uma lagrima de felicidade embalada por um abraço asfixiante daqueles que encolhem o mundo e agigantam os amantes, o amor.
Abro os olhos e fecho o pensamento enquanto as folhas seguem a sua jornada: agora, tocam no chão suavemente e formam um bonito esboço de um tapete - desenhado pela natureza e criado para ser calcado apenas por uns pés especiais de Princesinha, os teus. Do alto da minha janela, o meu portal matinal para a vida, observo a beleza dos tons pastel que compõe o quadro que me é dado a admirar. Fecho os olhos e imagino-te a correr na minha direção para me abraçar, enquanto mil folhas voam.