terça-feira, maio 22

(Dez)maio

Em maio o sol vai a meio da sua escalada para o ponto mais alto.
Em maio as noites encurtam e os dias crescem à velocidade da luz.
Em maio as mulheres ficam mais bonitas e brilham com o seu sorriso.
Em maio resgatei-te dos braços pérfidos de homens cuja alma passeia solitária num recanto do tormento, num qualquer pátio escuro e apagado - onde uma flor largada murcha sem a luz que a alimenta.
Em maio, e por ti, esqueci-me de tocar nos corpos nus de mulheres que vagueavam à espera do seu momento. Deixei de ceder o meu ser como alimento do seu prazer, que por breves minutos voava e desembocava no beco da solidão.
Foi em maio; fiz-me passar por intruso da tua vida; deixei-me ficar – todo o tempo que pude – debaixo dos teus lençóis, muitas vezes, em silêncio a contemplar os teus belos olhos azuis. Lia às escondidas o meu compendio de psicologia para entender o significado do teu olhar distante, que parecia ser de uma miúda que se perdeu e teme pedir ajuda. Enrosquei-me, vezes sem fim, no teu corpo enquanto sentia a jorrar a água do teu banho; deliciei-me a imaginar o quão prazeroso seria ser uma gota que escorria, que cortava o seu próprio caminho, pelo teu corpo nu. E ofereci, nas nossas noites, o meu ombro como amparo para o teu belo rosto, enquanto fingia dormir e sentia a paz do teu respirar.
Fui teu sem saber se eras minha. Delicadamente toquei na tua mão e agarrei-a com força como se – desta vez – valesse a pena. Senti o arrancar do coração enquanto me despedia de ti e descia as escadas para o metro que não vacilava e me arrancava de perto de ti. Sempre fingi amolecer a dor, sabes.
Agora: corres de e para os meus braços e continuo a sentir a dor a cada meio metro que aparece e nos renega a proximidade dos nossos corpos que nasceram para estarem juntos.