segunda-feira, novembro 21

Vento de (Nor)te

Vento sopra forte e deixa-me as tuas palavras pela surdina. Esconde-as no meio dos silvos que se soltam dos obstáculos que habilmente cruzas. Tu que já sopras muito antes do meu primeiro choro; que viajas por sítios onde nunca estive e nem sei se estarei. E que viajas ao longo do tempo com uma energia infinita que certamente te faz saber o que mais ninguém sabe. Só tu consegues, duma vez, esquartejar quem te resiste. Sei que já embalaste o cabelo de quem amo. E sei que:

És tu que ouves as conversas dos amantes que se escondem entre as rochas num dia de tempestade e que têm medo que o mundo lhes roube - uma gota que seja – do seu amor.
És tu que secas as lágrimas daqueles que tudo perdem na tempestade do mar ou da terra e com dor se deixam cair.
És tu que empurras ou amparas quem num sitio alto se sente perdido.
És tu que empurrar o papagaio que eleva o sorriso duma criança que brinca.
És tu que levas e trazes os meus pensamentos quando vou ao teu encontro na areia do mar.
Foste tu que levaste sem rumo numa noite de Maio ao encontro de um abrigo.
Foste tu que abanaste Lisboa quando eu sentado implorava conselhos ao Douro.
Foste tu que geraste a brisa que entorpeceu o meu olhar – por mais do que uma vez.
Foste tu que ensinaste a apreciar o Suão.
Foste tu que te juntaste a um comboio para me fazer estremecer do coração até a espinha.

Só podes ser tu que podes empurrar as páginas do meu diário e me revelares o que aí virá: se a tempestade de inverno, se a bonança que vem quando te cansas e repousas sobre o mar.