sábado, setembro 26

Nevoeiro das palavras

O nevoeiro esconde o horizonte. No meio do nada vivo sentado e admiro o verde (moribundo) da paisagem. Desvio o olhar e contemplo o cinza solto que embeleza o horizonte. Só, deixo o pensamento navegar. Bebo da minha solidão. Sempre foi assim. Esqueço-me de tudo, como que abandono o corpo: sem deixar de pensar em ti. Já sabias do padeço: gosto de gostar de estar só; de caminhar no meio dos meus pensamentos; de tentar perceber o que não consegui ser – mas que queria muito.
Não me importo que me abraces em silêncio – só não soltes qualquer palavra. Os amantes conseguem comunicar em silêncio, sabias? Não quero que espantes os meus pensamentos. Espanta os meus e os teus medos – sabes como? Olha como a Lua nos fala e não precisa de soltar um murmúrio. Admira como o sol nos aquece – sem soltar uma única silaba. As pessoas já têm um olhar, um abraço ou um mimo – porque precisam de falar? Não sou bom a verbalizar o que penso e não sei se é um mal que a humanidade padece ou não. Nunca me contes mentiras piedosas. Não quero que sejas o que pensas que eu quero que sejas: podes enganar-te: a mentira envenena. Nenhum amante tem o antídoto. Não me peças a mim para o encontrar. Fecha os olhos esquece tudo – abraça-me no teu pensamento. Não precisas de falar.