quinta-feira, janeiro 22

Sabor da alma

Já não sinto o sabor a insosso. Como já me é desconhecido! Deixo-me ficar à noite a engolir o vento esperando que o sabor desvaneça – mas não consigo. Mergulho-me de alma no rio, mas não há água que me transfigure.
Já não lembro do traço doce. Só consigo uma fraca memória do (dito) mel na minha meninice. Mesmo quando impregno o meu estomago de mil doçuras- não me consigo soltar do trago que me impele.
Só reconheço o paladar do amargo. Que me desperta, me acorda e me faz sentir vivo. Que transborda da alma para o meu corpo. Que brota duma nascente interna, que nunca acaba. Paro de escrever enquanto sinto mais uma lágrima, que cai e me alimenta:
«E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!»