segunda-feira, abril 4

Homens temporariamente sós na Foz

Esquecidos e perdidos sentem a maresia, enquanto se escondem por entre as dunas. Cada duna e cada rocha esconde uma história de amor terminada.
Temem a fúria do mar, temem um luar solitário enquanto partilham a solidão com um qualquer grão de areia.
Escondem-se durante o dia e aparecem ao anoitecer numa forma de ritual vampiresco (de acasalamento).
Prometem, falam e lançam o seu charme como se uma essência se tratasse.
Escondem-se por de trás duma camisa da moda nas entranhas dum casaco cuidado, a barba é de dois dias, acompanham-se sempre por meio frasco de perfume, derramado devagar como se uma lágrima se tratasse.
Choram por dentro a cada conquista que falham, esboçam um sorriso fingido quando se afastam duma mesa, que viveu esse triste momento.
Terminam a noite sempre da mesma forma, sós e moribundos, encostados a um muro enquanto contemplam a calma do Douro. Amam o contraste: um leve ondular do rio a disputar uma guerra com as suas almas em ebulição etilíca.
Caminham, correm e saltam soltos ao vento, sentindo a liberdade de serem só deles, num frenesim temporário, mas por breves momentos, porque quando tudo para continuam a ser homens temporariamente sós.